Mesa 1 – Impacto e inovação da pesquisa e da pós-graduação na área da Linguística e da Literatura.
Prof. Dr. José Magalhães (Área. 41/PPGEL/UFU) – “A pesquisa em Linguística e Literatura: impacto e inovação”
A valorização e a popularização da ciência devem incorporar todas as suas vertentes, objetos e áreas de investigação. É comum que se indague, por exemplo, como considerar inovação e impacto ao serem colocadas em relevo pesquisas vinculadas à grande área de humanidades em geral. Nesta apresentação, abordarei como as investigações inseridas da Área de Linguística e Literatura podem ser inovadoras e gerar impacto, seja em âmbito local, regional, nacional ou internacional. O ponto chave a se considerar perpassa a identidade, a missão e as características próprias desta área, o que inclui sua episteme, seus objetivos, sua abrangência. Soma-se a isto o perfil do pesquisador que área se compromete a formar, seu destino e sua atuação no espectro social que o acolherá. Os dados que sustentam a argumentação advêm do que os mais de cento e sessenta programas de pós-graduação stricto sensu, em funcionamento, circunscritos à área de Linguística e Literatura realizam quanto à produção e à transferência de conhecimento e o que eles promovem em termos de impacto e inovação.
Mesa 2 – A viagem da linguagem no tempo: perspectivas das Ciências do Léxico e dos Estudos da Tradução.
Profa. Dra. Clotilde de Almeida Murakawa (UNESP-Araraquara) - "Três séculos de palavras do Português Brasileiro: Dicionário Histórico.”
A Lexicografia contemporânea, em especial a brasileira, vem se apoiando nos fundamentos propostos pela Linguística de Corpus para a construção de bancos de dados ou bases textuais como um recurso imprescindível para a elaboração de dicionários gerais ou de especialidades. Com base nesses fundamentos, foi construído um banco textual de aproximadamente 10 milhões de ocorrências que deram suporte para a elaboração do Dicionário Histórico do Português do Brasil – séculos XVI, XVII e XVIII (DHPB), um dicionário documental que registra um acervo lexical da língua portuguesa nos 3 séculos do Brasil Colonial. Os 10470 verbetes que compõem o DHPB, como é mais conhecido, reúnem informações linguísticas e históricas importantes para o conhecimento do português do Brasil. Para ilustrar alguns aspectos importantes da elaboração dos verbetes, são apresentados neste texto, alguns dos procedimentos teórico-metodológicos adotados especificamente para o dicionário, evidenciando que o banco de dados orientou o caminho a ser seguido, assim como a tipologia das informações contidas no verbete, tais como: classe gramatical, linguagem figurada, expressões sintagmáticas nominais e verbais, locuções e a 1ª datação da palavra entrada no documento mais antigo do banco textual. Procura-se, portanto, dentro do tema proposto para esta mesa “A viagem da linguagem no tempo: perspectivas das Ciências do Léxico e dos Estudos da Tradução”, destacar a representatividade do Dicionário Histórico do Português do Brasil no panorama linguístico e histórico das Ciências do Léxico. Em seu livro Estúdios de Lingüística (1961, p. 147) Menéndez Pidal diz que o dicionário” será una fotografia instantánea del idioma en actitud dinâmica, representando al vivo la dirección de su movimento”.
Prof. Dr. Daniel Martineschen (UFSC) - “A confluência formativa de traduções na obra intercultural de Goethe: uma visão do Brasil, esse outro Oriente.”
Nesta conversa abordo a seguinte questão: qual a interferência, influência, importância da tradução para a constituição da obra de Goethe? Sabemos que escritores(as) traduzem, seja como parte do seu percurso de formação, seja como ganha-pão. Muitos também incluem a tradução no seu fazer criativo, incorporando elementos dos textos traduzidos na sua própria dicção literária. Há aí também muitas vezes momentos de apropriação - em que um texto traduzido é transformado em obra do próprio autor-tradutor. Configura-se aí um caso de influência, ou de plágio? Quais os limites? E no que toca às diferentes formas literárias que são importadas pela via da tradução: qual a importância da atividade tradutória de um escritor nessa transformação do próprio sistema literário? Quero abordar todas essas questões com exemplos da obra de Goethe - um gênio inegável, mas também humano, falivelmente humano.
Mesa 3 – Educação bilíngue: língua de sinais indígena e língua portuguesa como segunda língua.
Profa. Shirley Vilhalva (UFMS): “Mapeamento das línguas de sinais emergentes: um estudo sobre as comunidades linguísticas indígenas de Mato Grosso do Sul.”
A pesquisa tem como objetivo mapear e registrar o surgimento das línguas de sinais familiares em um contexto plurilíngue, com foco específico nas aldeias Jaguapiru e Bororo, pertencentes às comunidades indígenas do município de Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul. A pesquisadora, que também é surda e usuária de língua de sinais, adentrou ao espaço cultural e linguístico de uma etnia que tradicionalmente valoriza a oralidade, como é o caso dos guarani: kaiowa, ñandeva e mbya, onde a comunicação oral é considerada um importante aspecto de poder dentro da comunidade e das Escolas Indígenas. No entanto, a pesquisa busca compreender como as línguas de sinais familiares estão sendo desenvolvidas por pais ouvintes ao terem filhos surdos, utilizando formas naturais de comunicação visual, como gestos e apontamentos. Os depoimentos espontâneos dos familiares foram utilizados como principal método de coleta de dados, sendo acompanhados por uma equipe da Secretaria Municipal de Educação (Semed), um intérprete de Libras e um representante da liderança indígena local. O registro foi realizado nas residências dos indígenas surdos, além de diários, fotos e filmagens na escola indígena, sempre que permitido A análise dos dados incluiu uma abordagem linguística com foco no vocabulário, buscando mapear o desenvolvimento das línguas de sinais emergentes, o que fornecerá elementos concretos para a proposição de políticas linguísticas nessa área.
Prof. Dr. Kleber Aparecido da Silva (UnB): “Ubuntu Translanguaging e Políticas Linguísticas: esforços decoloniais para a educação multilíngue no Sul Global.”
As práticas educacionais do Sul Global permanecem em geral monolíngues, apesar dos ricos repositórios de formas locais de conhecer, de ser e de agir. Ubuntu translanguaging é um campo de estudo e de investigação que dá um passo significativo, visando a decolonizar as salas de aula de línguas e oferecer agências aos professores e aos alunos com o intuito de se ter um acesso mais profundo ao conhecimento. No entanto, as interpretações deste fenômeno ainda são linguísticas baseadas em programas tradicionais de educação bilíngue. Nesta comunicação explorarei o que significa translanguaging para o Brasil e para a África do Sul a fim de elaborar uma proposta de multilinguismo baseado nas competências culturais locais. Levando em conta os contextos sociolinguísticos africanos e brasileiros anteriores ao colonialismo europeu, recorremos aos repertórios culturais indígenas desses países para combater as suposições coloniais e inquestionáveis relativas à educação multilíngue em ambos os países. Reposiciono criticamente a teoria da Ubuntu Translanguaging e das Políticas Linguísticas para defender a decolonização dentro e fora dos discursos de translanguaging. Recomendações pedagógicas úteis para os eventos/práticas de (multi)letramentos na perspectiva ubuntu são fornecidas para adaptação em contextos relacionados.
Mesa 4 - Na Casa Deles, de Edith Chacon e Priscilla Ballarin: um convite para uma conversa sobre a formação do professor de língua portuguesa como leitor de textos literários – antigos e novos desafios;
Profa. Dra. Patrícia A. Beraldo Romano (UNIFESSPA): “A formação do professor de língua portuguesa como leitor de textos literários: desafios constantes.”
Dos Irmãos Grimm aos escritores modernistas e contemporâneos, esta conversa nasce a partir do convite que a obra Na casa deles (2020), de Edith Chacon e Priscilla Ballarin, nos faz: você, no nosso caso, o professor de Língua Portuguesa, tem quem na sua “casa” (formação leitora) para compartilhar com seus alunos e convidá-los a habitar a “casa” ( a partilhar a leitura) de escritores que, desde o berço escolar, deveriam estar presentes na vida dos alunos por vocês formados ao longo da trajetória como educadores? Você, professor, já esteve na casa de Jacob e Wilhelm Grimm, de Lobato, de Guimarães Rosa, de Clarice Lispector, de Fernando Pessoa, de Ruth Rocha, de Ângela Lago, de Vinícius de Moraes, de Ana Maria Machado, de Mário Quintana, de José Saramago, De Manoel de Barros? E na casa de quais outros inúmeros escritores você poderia aqui também já ter estado? Esse será o mote para essa prosa boa que se pretende empreender sobre os desafios constantes de ser leitor e professor de Língua Portuguesa hoje.
Profa. Dra. Maralice de Souza Neves (UFMG): “Por que a formação de professores nunca termina?”
Freud (1937) partiu da ideia kantiana dos ofícios impossíveis e chamou de sucessos insuficientes as artes de educar, governar e analisar. Nada é garantido no exercício dessas três funções. A função de educar está fadada à frustração de quem a professa e seu produto final é da ordem da aleatoriedade. Resta-nos buscar uma maneira de lidar com esse impossível de forma a tomá-lo como parte constitutiva do exercício. No entanto, na contemporaneidade, o professor tornou-se o responsável pelo fracasso escolar, lugar que ele parece ocupar sintomaticamente. Voltolini (2018), afirma que a busca por novos modelos de formação ou por aperfeiçoamento de formações já existentes, conforme exigem o tempo e o espaço atuais, não oferece soluções e continua sempre atestando a incapacidade do professor porque a natureza da formação docente é interminável, insuficiente, ou seja, ela é estruturalmente continuada. Seria possível propor, então, que a formação contínua permita alguma elaboração, algum ganho de experiência, alguma implicação subjetiva, apesar da falta de êxito quanto à sua finalidade?
Mesa 5 – O tempo é agora: poéticas negras
Profa. Dra. Vanessa Ribeiro Teixeira (UFRJ) - “Aquém e além do tempo: poesia da experiência radical negra em Agostinho Neto e Noémia de Sousa.”
Concordando com as palavras de Maria Elvira Díaz-Benítez, que, no Prefácio da antologia Pensamento Negro Radical (2021), vê “toda essa radicalidade [negra] como perenes gestos de fuga, como recusas constantes à sujeição, como técnicas pretas nas quais se reproduzem os segredos para a sobrevivência”, e refletindo sobre a imagem projetada por Grada Kilomba, em Memórias da plantação (2019), ao entender o racismo como uma flecha que atravessa o tempo, nos pega de surpresa e nos paralisa, pretendo ler a poesia de Agostinho Neto (Angola) e Noémia de Sousa (Moçambique) como elementos integrantes de uma longa tradição de discursos da resistência e da persistência negra afrodiaspórica num mundo que, através dos séculos, insiste na coisificação dessas existências, negando-lhes o direito à subjetividade e integridade humana.
Profa. Dra. Roberta Guimarães Franco Faria de Assis (UFMG/CNPq) – “Qual tempo é o agora? Novos corpos escrevem um passado continuum na literatura portuguesa contemporânea.”
No ano de celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos é relevante olhar a literatura portuguesa contemporânea e perceber a presença significativa de escritores negros. Histórias diversas, mas atravessadas por um passado colonial comum. Corpos e escritas contemporâneas que não deixam de entrelaçar temporalidades em uma sociedade marcada por um forte imaginário colonial. Esta proposta abordará a escrita de Djaimilia Pereira de Almeida, Kalaf Epalanga, Tvon, Yara Monteiro e Aida Gomes.
Mesa 6 – Por que a intermedialidade importa?
Profa. Dra. Miriam Vieira (UFSJ/CNPq). “Práticas expandidas de leitura de um diário de bordo e de um álbum em vinil.”
Não é novidade que a literatura tira proveito de projetos editoriais como construtor de significado. Transmidiadas em “livros totais” (Maziarczyk), narrativas contemporâneas têm sido materializadas “como se” (Rajewsky) fossem uma outra mídia. O objetivo é apresentar a intermidialidade como um operador teórico para desvelar tramas intermidiais, transtextuais e multimodais nos romances Opisanie Świata (2013), de Verônica Stigger, e A visita cruel do tempo (2010), de Jennifer Egan.
Prof. Dr. Alex Martoni (PUC Minas): “Escrita e Leitura: práticas intermidiais em expansão”
A emergência de novos dispositivos técnicos de registro, processamento e transmissão de informações vem provocando uma profunda reconsideração no modo como concebemos o gesto da escrita, agora, atravessado por práticas como a fotografia, a colagem, a edição, a performance, a pós-produção, entre outras. Dentro dessa perspectiva, uma questão fundamental para os estudos literários hoje é pensar em formas de descrição e análise desses processos, assim como em suas implicações técnicas, estéticas e políticas.